29 março 2015

EU, ATOR.


Toda criança, em um momento da vida, se depara com uma pergunta um tanto intimidadora: o que você vai ser quando crescer? Se a criança responder que em seu futuro incerto exercerá qualquer profissão de educação, gestão ou qualquer outra que, perante a sociedade, é vista com bons olhos, tudo bem, está indo no caminho certo. Mas se ela disser que quer ser uma popstar, estar na televisão ou viver aventuras sendo algum super-herói, pessoas começarão repreende-las dizendo que tem que pensar melhor no futuro.

Minha mãe sempre me dizia que o maior orgulho dela seria que eu me tornasse um Doutor. Mas o que ela não sabia era que quando eu entrava no banheiro, começava a criar histórias sobre aquilo que via na TV. Por muitas vezes, eu criava finais diferentes para as mesmas histórias. Divertia-me bastante assim, pois estava à procura de sair da minha vida sem graça e viver várias coisas super legais.

Tudo começou, quando, num certo dia, uma professora da escola fundamental foi a minha sala e solicitou que um menino descesse até a sala de artes, pois ela precisava de ajuda. Sempre fui aquele menino invisível que não participava de nada na escola. Pela primeira vez na vida senti que devia fazer parte de alguma coisa. Então levantei o braço.

Quando uma professora de artes pede ajuda para um aluno, você logo pensa que será algo relacionado sobre:

1) buscar tintas, papéis coloridos e giz de cera no almoxarifado;
2) ajudar a transportar algo pesado para outra sala;
3) qualquer outra coisa que não seja participar de uma peça teatral.

Quando fiquei sabendo que a ajuda em questão era porque o elenco para uma peça estava desfalcado, queria voltar correndo e me esconder debaixo da minha carteira. Nunca, em toda minha vida, me colocaria de frente a escola inteira para uma apresentação qualquer.

Tarde demais. Outra coisa que não fazia além de me apresentar em público era desistir de algo. Palavra é palavra. Não importa se meu coração batia acelerado, se minhas mãos estavam suando ou se meu corpo estava todo frio. Não voltaria atrás.

Era a primeira vez que eu não sabia o que fazer. Um menino tímido com 10 anos de idade que iria apresentar uma peça de teatro para toda a escola. Detalhe: turno da manha e turno da tarde.

A peça chamava-se “Um óculos para Luzia”, uma adaptação de um livro homônimo. Basicamente a história era de uma menina que não estava enxergando bem e foi ao oftalmologista fazer um exame.  E eu seria o médico.
Não me lembro de como foi o processo para a peça. Acredito que nem ensaiamos nem nada. Na apresentação a narradora lia o livro e quando chegava às falas, ela passa o livro para cada ator.

Aparentemente isso não deveria ter sido grande coisa. Cinco crianças na frente da escola inteira lendo um livro. Mas para mim não era isso. Aqueles poucos minutos era eu sendo um médico. Um Doutor como minha mãe sempre quis que eu fosse. Por poucos minutos aquele não era eu.

Minha mãe não gostou da ideia da peça, pois ela teria que me levar à escola de manha e a tarde. Lembro que ela até me xingou por ter me oferecido a participar. Mas não estava nem ai, estava extasiado, absorto por causa daquele momento, pois estava me lembrando das histórias que criava no banho. E tinha feito aqui fora do banheiro.

Foi o máximo. Eu tinha atuado e não conseguia parar de pensar naquilo. Mas nunca contei a ninguém, afinal, ser popstar, estar na televisão ou viver aventuras sendo algum super-herói, não era um futuro bom.

Depois daquele dia comecei a me permitir mais. Ainda era o menino tímido de sempre, mas uma cadeia dentro de mim fora destrancada. Ainda no colégio, até me formar, eu apresentei mais três peças referente a livros.

Quando no terceiro ano do ensino médio, conheci uma garota que sempre quis ser atriz. Tendo este sentimento recíproco começamos a pensar sobre começar a estudar teatro. Estava prestes há fazer 18 anos e pensava que era hora de fazer algo que realmente gostava.

Ela foi essencial para minha decisão. Acho que se eu nunca tivesse conhecido a Dani, nunca teria feito teatro. Sempre fui uma pessoa acomodada e que se não estiver com o caminho relativamente traçado, não saía do lugar.

Entramos para uma escola de teatro e foi neste momento em que tudo aconteceu. Certeza sobre o que eu queria ser quando crescesse (mesmo já estando crescidinho).

É difícil não se lembrar da primeira vez que pisei num palco com platéia. Esse momento me fez lembrar uma música, This is me da Demi Lovato.

Na música ela canta “que sempre foi o tipo de garota que se escondia. Tinha medo de dizer as pessoas àquilo que ela sempre queria dizer. Possuía um sonho que brilhava intensamente dentro dela, mas que agora era hora de todos saberem disso.” A situação que ela se encontrava, no filme Camp Rock, era que sempre quis cantar, mas tinha medo de mostrar as pessoas essa parte dela. Até que resolveu enfrentar seu medo e cantar para todos.

Este era o que eu senti durante minha vida. Eu sabia o que queria ser. Sempre soube. Mas tinha medo de dizer isso. Quando me perguntavam se eu já sabia em que eu iria me formar, sempre dizia que ainda não havia decidido. Mentira. Já sabia, sim.

A música ainda continua: “Isto é real. Esse sou eu. Eu estou exatamente onde eu deveria estar. Agora deixarei a luz brilhar. Encontrei quem eu sou e não tem como mais esconder isso. Não irei esconder quem quero ser. Esse sou eu”.

Esse sou eu. Encontrei-me nos palcos. Nunca tive dúvida. Por mais que minha mãe só permitiu que eu estudasse teatro se fizesse outro curso em paralelo.

Uma coisa que venho aprendendo nos últimos anos é que o ator tem que aceitar quem ele é independente se alguém o apoia. As artes em geral, no meio em que vivemos, serão vista como profissões incertas. E que somente pessoas que aparecem na TV que conseguirão viver de arte.

1)  As famílias sempre dirão que você terá que fazer outro curso, pois quando você “acordar para a realidade” terá pelo o menos um plano B em execução.
2)  Os amigos sempre te dirão para seguir seus sonhos, mesmo você não sendo ótimo naquilo que faz.
3)  Se você ficar ouvindo no que sua família ou seus amigos dizem, você não irá conseguir ser verdadeiro com você mesmo.

Quando digo que os amigos sempre dirão a você para seguir seus sonhos. Não é algo ruim, pelo contrário. Sempre é bom ter gente que nos apoia e acredita que somos capazes. Mas me refiro no sentido de que, na maioria das vezes, os amigos não terão coragem de dizer que você precisa melhorar. Com medo de nos machucar por estarmos fazendo algo que amamos profundamente.

Eu como profissional, me preocupo sempre em melhorar. Primeiro para mostrar a mim mesmo que sou capaz. Segundo para mostrar a minha família que sou bom naquilo que escolhi como profissão.

Diante dos acontecimentos, eu sou aquele que não procura por elogios. Acredito que o ser humano em si já é vaidoso o suficiente em seu dia a dia. O ego nos atores é algo extremamente prejudicial. Fortaleço-me com os pontos negativos. Adoro ouvir uma crítica construtiva, pois ainda estou em formação. O ator sempre estará aprendendo, então não há motivos para eu querer elogios.

O autoconhecimento é primordial para aquele que quer seguir uma carreira. Saber onde está e projetar um caminho a ser seguido. Acredito que isto pode acontecer se o ator tiver maturidade durante esse processo.

Eu consigo hoje me ver no rumo certo. Estudando e caminhando num caminho que eu escolhi. Sem família e amigos opinando em minhas decisões. Consigo me ver claramente em cima de um palco, sem ego nenhum, pois este sou eu.

3 comentários:

  1. Amei a sua história! Muito inspiradora!
    Acredito que qualquer pessoa pode ser o que quiser, basta focar e ir em frente firme!
    Você está no caminho certo! ;)

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  2. sua historia e maravilhosa! tenho muito orgulho de vc vai em frente,siga seus sonhos estarei sempre com vc acredito no seu sucesso parabens meu filho ti amo muito ......................

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