Já era noite e devido à
tempestade que caia, o bairro estava totalmente sem luz. A galera da escola
resolveu se juntar na casa do Marcão para comemorar o seu aniversário, mas a
chuva impediu que nossa diversão continuasse. Sem música ou bebidas gelada, ficamos
sentados na sala esperando a luz voltar.
–Não aguento mais ficar sentada aqui – reclama
a Luiza se ajeitando no sofá. – Podíamos fazer alguma coisa para passar o
tempo.
– Meio difícil fazer alguma coisa
nesta situação Lu – digo sem ânimo.
– Por que não fazemos a
brincadeira do copo? – propôs Vitor.
Todos se entreolharam, estava um
pouco difícil de ver claramente a expressão de cada um. A luz emanada das
poucas velas distribuídas no espaço foi o suficiente para perceber a tensão de
todos. Não acredito nestas superstições. Não sou uma pessoa que se assusta
fácil, mas prefiro não participar destas coisas que mexem com o sobrenatural.
– Eu topo! – aceitou o Marcão
levantando-se do chão e indo em direção ao quarto. – Vou pegar tudo que
precisamos para começarmos a jogar.
Quando Marcão saiu da sala, vi
Marina congelar. A garota sempre fora a medrosa de todo o grupo, sabia que ela
estava calada este tempo todo, porque estava com medo do escuro. Posso imaginar
o que esteja passando pela sua cabeça, ainda mais agora depois desta conversa
de jogo do copo.
Nunca participei desta brincadeira.
Sei que este jogo serve como meio para comunicar com os espíritos, pelo o menos
é o que dizem. Talvez isso seja somente usado para assustar as pessoas, talvez
isso não seja real, não existe nenhuma forma de se comunicar com outra
dimensão.
Marcão volta à sala e joga na mesa
de centro, cartões com letras que ele havia pegado no quarto de sua irmã,
colocou o copo que trouxe da cozinha no meio e escreveu as palavras ‘sim’ e ‘não’
cada uma em um papel diferente colocando-as em paralelo ao copo.
– Todos sabem como se joga? –
Marcão pergunta.
– Tem certeza que querem fazer
isso? Quero dizer, podemos arrumar alguma coisa divertida para passar o tempo.
– Estou com o Pedro, não acho uma
boa ideia brincarmos com isso – finalmente Marina se manifestou, concordando
comigo.
– Parem com isso galera. É só um
jogo, nada de ruim vai acontecer.
Não me senti seguro com as
palavras do Fernando, é claro que todos eles estavam levando isto na
brincadeira, afinal, quem nunca brincou disso pelo o menos uma vez na vida? Eu.
Minha vontade era sair daquela sala antes deles começarem, mas a chuva ainda
estava forte lá fora. Todos saíram de seus lugares e se sentaram em volta da
mesa já arrumada.
– Coloquem um dedo por cima do
copo cada um de vocês, vamos começar a jogar.
– Eu pergunto – Luiza estava toda
animada com o início do jogo, acho que só Marina e eu estávamos preocupados com
o que poderia acontecer. – Tem alguém ai?
Marina fecha os olhos quando a Lu
fez a pergunta, me coração acelera. O copo não se move, fica instável. Todos se
entreolham, fico feliz pelo copo não ter se mexido. Luiza estava intrigada,
então refez a pergunta com mais força “Tem alguém aí?”.
O copo começa a se mover
lentamente, meu coração bate mais rápido. Marina apertava seus olhos com muita
força. O copo se movimentava pela mesa, meu dedo que estava por cima começou a
tremer, não estava fazendo força e nem estava empurrando o copo. Ele se movia,
lentamente, em direção ao “sim”.
– Parem! – gritou Marina se
levantando. – Isto é ridículo, não somos mais crianças para brincarmos com este
jogo estúpido.
– Calma Nina, estamos só nos
divertindo. Se você estiver com medo, pode ficar no sofá.
– Fernando, eu não estou com
medo. Eu... Só não estou a fim de participar disso.
Enquanto todos estavam distraídos
ouvindo a discussão entre Marina e Fernando, me voltei para olhar a mesa.
Realmente era uma estupidez o que estávamos fazendo. De repende meu coração
começa a disparar, a bater bem rápido enquanto eu via o copo se mover sozinho.
Não tinha forças para gritar, mas minha expressão chamou a atenção de Luiza que
se virou em direção para onde meus olhos apontavam. Não havia nenhum dedo por
cima do copo, e ele se movia. Como isso era possível?
– Quem está ai? – Pergunta Luiza
com medo em sua voz.
O copo começa a se mover em
direção as letras espalhadas pela mesa. O copo vai se dirigindo as letras. Quando
ele finalmente para, meus olhos se arregalam não acreditando no que vi. Morte.
Ele disse que era a morte quem estava ali na sala com todos nós.
Todos estavam olhando aquilo, via
em seus olhos o medo aparecendo. Marina, que estava aterrorizada, não se hesita
em sair pela porta correndo, mas quando ela chega próximo dela, a porta se
fecha sozinha.
– O que você quer? – Ela grita em
pânico.
“Sangue” escreve o copo.
A partir desde momento, não me lembro
do que aconteceu ao certo. Marina começou a gritar e bater na porta. A janela
que estava trancada se abriu abruptamente, uma ventania começou a entrar pela
sala. Eu queria fazer alguma coisa, mas não conseguia. Marcão que estava inerte
pelo que estava acontecendo, vai em direção à janela tentando fechá-la. Ventava
muito na sala, o vento levou os cartões das letras que estava por cima da mesa.
Sangue. Lembro-me do que a morte havia dito o que queria.
Sangue. Sangue. Sangue.
Fiquei repetindo esta palavra em
minha cabeça por muito tempo. Quando virei minha atenção para Marina, ela
estava parada no meio da sala. Parecia que ela estava hipnotizada, percebi que
ela segurava nas mãos o copo que usamos no jogo. Queria gritar seu nome, mas
não consegui. Ela havia quebrado o copo na mesa. Sangue. Novamente me recordo
do que a morte disse o que queria, tentei me levantar, mas não consegui. Havia uma
força me segurando para que eu não pudesse levantar para impedi-la de fazer o
que eu imaginava que seria capaz.
Marina não piscava, estava em
transe. Vi que seus olhos estavam totalmente negros. Finalmente entendi, a
morte havia possuído o seu corpo. Não era mais a Marina que estava ali naquela
sala. Era a Morte. Vi ela matar cada um que estava naquela sala. Vi o sangue que
ela tanto queria se espalhar pelo chão. Vi quando ela me olhou e cravou o copo
em seu pescoço.
O ventou havia parado, a chuva
também.
Todos que estavam ali comigo
estavam mortos, estava assustado de mais para chorar pela perda dos meus
amigos. Todos estavam mortos e somente eu saíra vivo, mas por quê? Porque eu
estava vivo? Porque a morte não me levou?
O motivo eu não sabia, me sinto estranho.
Sentia meu corpo formigando. Virei-me e olhei meu reflexo no espelho da parede,
vi meus olhos ficarem negros. Não havia como fugir, era tarde de mais. A morte
estava dentro de mim.
Posso correr para debaixo da cama agora? kkkkk
ResponderExcluirA.D.O.R.E.I
Ótima forma de comemorar a sexta-feira 13.
Tem continuação? Já que a 'morte' possuiu o Pedro... se tiver quero ler, mas espero que não seja na próxima SF13 kkkk