04 dezembro 2014

Entrevista com a escritora Paula Pimenta

Autora dos livros Fazendo Meu Filme e Minha Vida Fora de Série fala sobre carreira, relação com os fãs e planos para o futuro

Odin

Ela é um sucesso. A escritora mineira Paula Pimenta já vendeu mais de 114 mil cópias dos quatro volumes de Fazendo Meu Filme e do livro Minha Vida Fora de Série. Ela reza na cartilha do chick lit, gênero que tem como principal expoente a escritora Meg Cabot, de Diários de Princesa, mas com um tempero brasileiro. As descobertas da adolescência, brigas com os pais, escola, clube, cinema e os primeiros amores agradaram em cheio o público adolescente, que já se organiza em fãs-clubes pelo país. Paula recebeu a reportagem de VEJA BH em sua casa no bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte, onde falou por mais de uma hora sobre a relação com o público, o início da carreira e os planos para o futuro. 

Paula, como você começou a escrever?
Desde crianca, eu sempre gostei de escrever. Português sempre foi minha matéria preferida e no vestibular, eu decidi fazer jornalismo para me profissionalizar na escrita. E eu não conhecia nenhum jornalista, não tinha ninguém na minha família que era, e logo no começo do curso, fui vendo que não era bem o que eu pensava. Os professores começaram a falar que o que eu fazia era crônica, literatura, cobravam o formato jornalístico e eu comecei a tomar birra de escrever, por que não queria aquele formato, queria mesmo era florear, contar histórias e vi que não ia ser feliz no jornalismo. Transferi para publicidade e fui levando a escrita como um hobby. Acabei sendo convidada por um site de crônicas, lancei um livrinho independente de poemas e sempre tentava iniciar um romance, mas não ia para a frente, travava, parava. Mas não era exatamente a meta da minha vida, trabalhava como publicitária e sempre dei também aulas de violão. 


E como foi que esse hobby de escrever cresceu na sua vida? 
Eu tenho um tio que mora em Londres e ele conseguiu um curso de escrita criativa, que é voltado mesmo para quem quer ser escritor. Era 2005, eu estava meio cansada de tudo por aqui e fui. Fiquei um ano lá para fazer esse curso e foi muito legal. Nem posso dizer que aprendi, mas ele me motivou a escrever e resolvi aplicar essa motivação. Já tinha vários romances iniciados e peguei o último deles, que era o Fazendo Meu Filme. E aí finalmente eu consegui. O Brasil tem muita festa, tem amigo, distração demais e eu não conseguia concentrar aqui. Lá, a Fani me fazia companhia. E antes,  eu só escrevia quando tinha inspiração, e passei a escrever um pouquinho todo dia mesmo sem estar inspirada e descobri que uma hora a inspiração vem. 

Como foi o processo de ser publicada? 
As editoras e o público têm preconceito com o nacional. Para eles, é mais seguro traduzirem um best-seller de fora do que apostar em alguém que ninguém nunca ouviu falar. Com o livro pronto, eu resolvi publicar de qualquer jeito, mas não conhecia desse mercado. Antes de tentar nas editoras como a Record e a Rocco, resolvi tentar antes as editoras de Belo Horizonte. Na primeira em que eu fui, me disseram que ia custar quinze mil reais. O segundo me disse que meu livro não ia agradar ninguém: os adultos iam achar ele bobo e os adolescentes iam achar ele muito grosso. E olha que já existia o volume seis do Harry Potter! (Risos). Desanimada, tentei mais uma, que foi a Autêntica. E lá me falaram que não era o perfil da editora, e não era mesmo. Mas comecei a contar a história do livro e foram se interessando, falei sobre o intercâmbio e me pediram para deixar o livro. Deixei e me ligaram falando que tinham adorado e que iriam publicar, mas que tinha um cronograma de lançamento que tinha que ser respeitado. Era março de 2006 e a previsão era o primeiro semestre de 2007. 

E para segurar a ansiedade?
Foi complicado, por que eu fiquei louca para ver ele publicado. Quem já tinha lido tinha amado. Nesse meio tempo, mudei o nome do livro, que era O Filme da Minha Vida, e me falaram que estava meio saudosista. Minha mãe sugeriu uma brincadeira com a gíria, de fazer o filme, e ficou o novo. Mas o livro só foi sair dois anos depois, no fim de 2008, achei até que ia ser cancelado. Quando saiu, foram mil cópias, uma tiragem superpequena e com uma capa diferente, com uns rolos de filme, algumas livrarias até acharam que era um livro sobre cinema mesmo. 

Mas mesmo assim, o livro foi muito bem recebido
Foi. Em um ano, ele esgotou, e sem propaganda, só no boca a boca. Eu mesma mandei para blogs, levei para escolas, e aos poucos ele foi pegando. Quem lia pedia a continuação e eu respondia para enviarem o pedido para a editora. E eles foram ficando impressionados, por que nunca ninguém tinha tido esse retorno lá. Então resolveram relançar o livro junto da continuação, e saiu com uma capa mais adolescente, rosa. E em dois meses essa tiragem nova, que saiu com três mil exemplares, também esgotou, e aí começou a bola de neve. Só para você ter uma ideia, o Fazendo Meu Filme 4 saiu com dez mil exemplares e já esgotou, entrou em várias listas de mais vendidos. 

E por que você acha que os leitores se identificam?
Porque é uma história que poderia acontecer com qualquer um. Ela não vai casar com um vampiro, ela não vai virar princesa. Ela se apaixona pelo melhor amigo. Ela vai para a escola, tem problemas com a familía, são coisas que todos adolescentes passam. 

São principalmente garotas, mas meninos também leem? Que retorno você tem deles? 
Os meninos que lêem adoram. Tem muita escola que adota o livro como leitura obrigatória e eles acabam lendo, já que nenhum menino vai ler por iniciativa própria um livro com a capa rosa (Risos). Mas sempre vou nas escolas depois para dar palestras, e os meninos me fazem perguntas, falam que gostaram do livro. 

E como é ter um livro adotado por uma escola? 
É o máximo! Quando eu estudava, amava a coleção Os Karas, do Pedro Bandeira, que lia no colégio. E esses livros se passam em São Paulo, e eu morria de curiosidade para conhecer o Parque do Ibirapuera, o Colégio Dante. E agora está acontecendo uma coisa que eu acho muito legal, que é as pessoas do Brasil inteiro querendo vir para BH por causa dos livros, gente que quer conhecer o Pátio Savassi, o Minas. 

Como é o contato com as fãs das séries? 
É muito gostoso. Elas me obrigam a escrever. Tenho vários fã-clubes pelo Brasil, elas até criaram uma nomenclatura própria. Elas se chamam de pimentinhas, e decidiram o nome em uma enquete. Elas fazem encontros, eu sempre faço um vídeo, mando uns brindes. Agora, elas criaram uma tag no Twitter, que é #todapimentinha. Então elas falam o que toda pimentinha faz, por exemplo, toda pimentinha já chorou em pelo menos um livro, toda pimentinha adora os bichos da Paula Pimenta. 

Elas te tratam como ídolo, então. 
É. A primeira menina que chorou, foi em Fortaleza, eu nunca vou esquecer. Fiquei desesperada, não sabia por que ela chorava, ela também não (Risos). Agora eu já acostumei, brinco com elas, faço cosquinha, falou que vão ficar feias nas fotos.

Como você reage quando vê uma fila de fãs para autografar os seus livros?
Ainda acho impressionante. No lançamento do livro três, estava tão cheio, tão cheio, que a Livraria Leitura fechou e a fila continuou. Não parecia que era eu. No lançamento do quatro, foi quando eu vi que tinha ficado famosa. O primeiro evento em uma livraria foi no Rio de Janeiro, na Cultura do Fashion Mall e na hora que eu entrei, foi uma gritaria tão grande que quase voltei para trás (Risos). O gerente me disse que o local só havia ficado tão cheio quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi dar uma palestra. Mas aos poucos eu vou me acostumando, apesar de ser muito tímida. 

Você sempre cita filmes e séries nos seus livros. Como elas funcionam como inspiração? Quais as suas séries e filmes preferidos?
Adoro Glee, Pretty Little Liars, Once Upon a Time. Também gosto de Dawson's Creek, My So Called Life, Felicity, é muita coisa. Filme é difícil, adoro Dez Coisas Que Odeio em Você, A Noviça Rebelde é um clássico. Sou apaixonada por cinema e séries e resolvi dar para as personagens essas minhas paixões. QUando estava no meio do primeiro Fazendo Meu Filme, achei que estava explorando pouco essa história da Fani adorar cinema e resolvi por as citações, que entram no início de cada capítulo. 

Minha vida fora de série é uma espécie de spin-off de Fazendo meu filme. Você chegou a pensar nisso quando quis criar uma história nova?
Não, não foi consciente. Eu queria continuar a história de alguma forma e peguei uma personagem bem secundária mesmo. A Priscila é uma amiga da Fani que está no segundo plano no Fazendo Meu Filme, e ela é bem diferente da Fani. A Fani é timida, e a Priscila é extrovertida. 

Como foi concluir o Fazendo meu filme? É complicado por um ponto final em uma história?
Foi um pouco triste. Enrolei para começar a escrever por que não queria acabar. Fiquei triste de me despedir, é como se fosse uma pessoa, uma amiga que foi embora. Acho que o livro ficou tão grande por que a história não queria terminar. Mas por outro lado foi bom. Uma leitora me falou que mesmo que tenha tido um fim, é bom saber que ela pode começar a ler de novo e ver os personagens crescerem novamente. 

Como você se prepara para escrever um livro?
Eu sempre sei como uma série vai terminar, e o que vai ter em cada um dos livros, mas confesso que não sei o que vai ser o recheio, o resto da história. Vai saindo, os acontecimentos vão surgindo. Tenho muitas ideias tomando banho, dirigindo, no cotidiano mesmo, e aí anoto tudo. Tive a ideia da próxima série outro dia, vai ser de uma menina que ama livros. 

Você ficou surpresa com o sucesso da série? Esperava chegar a mais de 100 mil livros vendidos? 
Eu achava que minhas amigas iam comprar, e que ninguém nem ia ler (risos). Mas passei por muita expectativa antes, foram dois anos, e quando foi publicado, eu acordei triste por que achei que ia acabar nisso. Quando chegou o primeiro e-mail de uma leitora, meus olhos encheram de água, fiquei superemocionada, imprimi para todo mundo ler. Hoje, se eu for imprimir os e-mails que chegam, ia ficar só por conta disso (risos). Mas até hoje eu não espero esse sucesso, sempre que tem um lançamento eu acho que não vai ir ninguém. E é estranho saber que uma coisa que você escreveu está com mais de 100 mil cópias. Quando passamos de vinte mil, eu vi um selo com o número colado no livro e assustei muito. Agora o selo está com 100 mil, uma loucura. 

E como foi essa mudança na sua vida? 
Olha, foi um processo que não foi meteórico. Quem vê agora, aparecendo em tudo quanto é lugar, acha que foi de uma hora para a outra e não foi, o livro é de 2005, já se vão sete anos. Tive tempo de me acostumar um pouco. No meio do ano passado, larguei tudo que fazia para me dedicar só aos livros. Trabalha no Rotary Club e dando aulas de música, de violão, e tive que deixar tudo. Quando não estou escrevendo estou viajando e sei que é uma fase, mas espero que ela continue por bastante tempo. 

Quanto de você tem a Fani e a Priscila?
Eu sou mais Fani. Sou mais tímida, sonhadora, adoro ficar em casa vendo filmes, seriados. Já a Priscila tem um amor pelos animais que eu também tenho. Ela tem cachorro, gato, papagaio, furão, e só de raça. E o Rodrigo, que é o namorado dela, tem um vira-lata, adotado. Aqui em casa nós temos dois cachorros e dois gatos que também foram adotados. Mas é só. Tirei uma coisinha ou outra minha, mas elas desenvolveram uma personalidade própria. A Fani é chorona, e eu não sou, a Priscila adora falar em público e eu não, fico sem-graça. 

As meninas que começaram a ler seus livros bem no começo estão envelhecendo. Você vê uma renovação do público ou já pensa em como continuar falando para essa turma?
Tem um público que cresceu com as personagens. Mas ele também se renova, tem meninas começando a ler o livro agora. Já chegou menina de nove anos na sessão de autógrafo. As mais velhas me cobram livros mais adultos, pensei até em criar um pseudônimo, Paula Pepper (risos). Mas tenho tanta ideia para livro q acho q vou ficar um pouco mais com essa faixa.

Você sempre fala de Belo Horizonte nos livros. Como é a sua relação com a cidade? 
Eu gosto de BH, gosto de morar aqui. Escrevo do que eu conheço, fui adolescente aqui, sei como é a vida de ir ao cinema, ao clube, ao colégio. 

E como é a sua rotina?
Na verdade, são duas. Quando eu escrevo, tem que ser imersão. Então vou para Varginha, onde meu namorado mora, por que lá é mais quieto, ele trabalha o dia inteiro e eu fico escrevendo sozinha. Acordo, releio os capítulos anteriores e continuo a escrever. Tento um capítulo por dia, mas escrevo dois, três, é rápido, em três meses eu fecho um livro. A outra é de divulgação. Vejo os e-mails, faço contato com os leitores, e viajo, vou em palestras, vou em escolas. 

Você namora há quanto tempo?
Seis anos, mas estou sem tempo até para pensar em casamento (risos). Ele é de BH, tem três anos que está em Varginha, é delegado federal. Tenho planos de casar mas sem pressa, está bom do jeito que está. 

E seus pais? Eles sempre apoiaram a decisão de escrever?
Eles sempre deram força, sempre foram despreocupados com isso. Meu pai é super fã, minha mãe foi a primeira que leu o meu livro. E eu fui largando tudo gradualmente, eles viram que eu tinha como me manter. 

E o que você gosta de ler?
Gosto de chick lit. Leio de tudo, mas por prazer mesmo é Meg Cabot, Lisa Jewell, Jane Green, Marian Keyes. Também adoro Crepúsculo e sou super fã de Harry Potter. 

Para o futuro, o que podemos esperar? Vem aí o filme de Fazendo Meu Filme? 
Tem alguns produtores interessados, mas estou segurando. Estou analisando, mas não adianta um filme que estraga o livro. Só vou deixar quando tiver certeza de que é sério, que vai ter um filme e vai ser legal. E eu quero escrever cada vez mais, ainda tenho muitas ideias para adolescentes. Mas quem sabe um livro para adultos e um de suspense, no futuro?
Crédito - Veja BH

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